sábado, dezembro 10, 2011

Cemitério das boas intenções.

 "Trancaram-nos aqui. Aqui onde vivemos a respirar o mesmo ar Aqui onde dividimos o que roubamos da nossa Terra-mãe. Por que todos aqui? E por que tantos, aqui? Aqui onde amamos nossos semelhantes Com a mesma intensidade que odiamos os que são diferentes. Aqui a gente briga pelo que não é nosso Aqui, onde a gente acumula o que não nos pertence Para que os que nada possuem permaneçam nada possuindo. E para sair daqui? Um portão, e ele não abre para os dois lados Saibamos, então, antes que seja tarde demais, que O bisturi vai ler em nossa pele A perfeita transcrição do que está entalhado em nossa alma. E assim veremos: A gente morre sem dinheiro A gente morre sem amor A gente morre sem amigos A gente morre sem sucesso, sem fracasso, sem passado, sem futuro A gente morre sem emprego, sem carro, sem medalhas no peito. O que está prostrado na maca é o elo perdido entre o Humano e o Animal. A gente morre sem rosto. A gente morre sem corpo. A gente morre sem nada. A gente morre para que, naquele hesitar entre o último pulso E o fechar de nossas pálpebras, Possamos ter um único segundo de paz. Trancaram-nos aqui. E daqui não sairemos juntos. A gente morre sozinho. E hoje, no auge do funeral dos nossos sonhos Depositamos aqui mesmo as nossas boas intenções. Trancaram-nos aqui. E daqui não sairemos vivos."

Lucas Silveira - Fresno

Um comentário:

  1. que rico esse texto *-*
    tô seguindo o blog :D

    http://papeldeumlivro.blogspot.com

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